Powered By Blogger

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Official Google Reader Blog: Welcome, Google Apps users!



    O MASOQUISMO E O SADISMO DE CADA UM “


Masoquismo, termo largamente usado e popularizado, originou-se do nome do conde austríaco Leopoldo Sacher Von Masoch, que viveu entre os anos de 1836 e 1895. Ele escreveu diversas novelas cujos personagens se envolviam com prazeres associados à flagelação. Usualmente empregado no cotidiano, este termo perdeu a sua conotação original patológica para se constituir numa forma irônica de pequenas agressões físicas e/ou morais. Entretanto, na clínica, essa aberração continua sendo enfocada e tratada como uma anomalia psíquica. Aliás, nestas últimas décadas, as palavras que designavam patologias e, principalmente, anomalias cérebros-mentais, foram e estão sendo substituídas por termos mais “light”; como: deficiente auditivo, deficiente visual, cadeirante, etc., ao invés de surdo, cego, paralítico, etc.

O deficiente cérebro-mental, por exemplo, ganhou o sugestivo nome de “excepcional”; o que não deixa de ser estranho, tendo em vista que “excepcional” é sinônimo de “extraordinário”, de “muito bom”, de “excelência”, etc. O que não é o caso, pois qualquer deficiência não é nada agradável para quem a tem. Esta nova rotulação tem a finalidade de proteger, à distância, a imagem da pessoa, bem como a sua auto-estima; apesar de que pode, também, provocar uma acomodação em seu possuidor. Voltando ao tema Masoquismo, caracteriza-se ele, pela compulsão ao sofrimento. Isto é, o indivíduo é levado, involuntariamente, à busca do próprio sofrimento físico e/ou mental.

Normalmente, no ambiente terapêutico, quando o analista identifica em seu paciente o comportamento masoquista e o interpreta para ele; este se espanta, afirmando que não é “louco” para procurar o próprio sofrer. De fato, seria autêntica “loucura” alguém, deliberadamente, criar prejuízos para si. É claro que uma pessoa masoquista age inconscientemente e, na maioria das vezes, sem qualquer controle voluntário (consciente). Quando a mente consciente ( o Consciente ) fica alheia ao comportamento, seja por disfunções mentais,transtornos neurológicos e cerebrais ou por ação de drogas; este mesmo comportamento se manifesta de forma compulsiva e quase sempre negativa para quem o pratica e para os outros. É digno de espanto descobrir-se que muitos sofrimentos, prejuízos físicos, morais e materiais, são provocados pela própria pessoa.

Muitos transtornos da vida moderna são decorrentes desse tipo de perversão da mente enferma e as famílias sofrem grandes danos materiais e psicobiológicos com ele. O masoquismo é pouco notado porque não são analisadas, com profundidade, as origens dos dissabores que eles nos afligem no dia-a-dia. No trato diário com patologias diversas, verificam-se casos em que o masoquismo é o centro de vários distúrbios familiares, como nos casos que relataremos abaixo, para melhor exemplificar as formas do sofrimento masoquista:

-Uma mãe de 52 anos, estava preocupando os seus filhos, com o seu comportamento tristonho e pelo descuido de sua pessoa. Seus gestos traduziam uma grande desvalorização por sua imagem e por seu corpo. Evitava qualquer oportunidade para se divertir, procurando fazer tudo sozinha, recusando a ajuda dos filhos, implicando com as empregadas que lhe arranjavam para lhe ajudarem nos afazeres domésticos. Criou serviços estafantes e desnecessários, tornou-se perfeccionista, quando repetia muitas vezes o mesmo trabalho, alegando que não ficara bem feito. Fazia questão de fazer sozinha os trabalhos de casa, alegando que  “ninguém sabia fazer igual a ela”; ainda mais que nenhuma empregada permanecia por muito tempo em sua companhia, devido as suas “implicâncias”.

Trabalhava exaustivamente em casa, realizando tarefas pesadas e cansativas, como lavar o chão, limpar, repetidamente, os móveis e varrer a casa com freqüência, além da comida e outras coisas cansativas; apesar de os filhos a repreenderem por isso. Em nada adiantava as súplicas familiares; ela continuava executando mais e mais tarefas no lar. Cortava-se com freqüência na cozinha e machucava-se com facilidade nos seus excessivos cuidados domésticos. Isto era bastante suspeito, pois, quando ia para a casa de outras pessoas, comportava-se de forma oposta, cuidando e zelando por sua saúde e por seu bem-estar. Isto ficou evidente, quando da vez que passou alguns dias na casa de uma amiga. Ausente do seu lar, ela não se machucou, embora tivesse ajudado a amiga na cozinha e em algumas tarefas caseiras. Nesses dias de ausência do lar, foi mais comunicativa e alegre, em nada se parecendo com o seu comportamento sofrido, quando em sua própria casa. Enquanto permaneceu fora de casa, comportou-se ela como outra pessoa. 

A senhora X (vamos chamá-la assim) estava se martirizando, de forma masoquista, a fim de aplacar enorme sentimento de culpa por ter um filho deficiente. Inconscientemente ela estava se punindo por não ter sido capaz de gerar todos os seus filhos normais. O seu masoquismo começou quando esse filho cresceu e se mostrou incapaz de uma vida normal, sem os cuidados dos pais. Dessa forma,  sentia-se culpada pelo comprometimento do futuro desse filho. O seu masoquismo, levando-a ao sofrimento, é uma tentativa de sua mente inconsciente para compensar essa “culpa”. Ela estava “se fazendo de vítima”, como popularmente se diz. Mas, na verdade, essa mãe não queria ser vítima; assim como ninguém deseja! Este é o grande engano das pessoas que julgam esse comportamento, como uma mera “chantagem” emocional. O que lhe acontece é o fato de ter sido programada por seu Inconsciente para sofrer, por força das circunstâncias alheias a sua vontade; isto é, não sabe o que faz. É preciso observar que, quando  uma pessoa “se faz de vítima”, quase sempre está se sentindo rejeitada, com sentimento de culpa e afetivamente carente.

-Uma moça, de 26 anos, sentia-se feliz até essa idade, conforme nos afirmou, quando no início da terapia. Recentemente, após um aborto para se livrar de um filho indesejável, passou a apresentar crises depressivas, num estilo de vida onde a tônica era o seu próprio sofrimento. Dizia que tudo que fazia “dava zebra”. Até as companhias masculinas que antes lhe davam muito prazer, agora lhe acarretavam problemas de toda ordem. Magra, abatida e muito ansiosa, queria saber por que o seu comportamento atual era tão desastroso. A paciente fora criada numa família religiosa, onde o aborto é considerado um grave pecado. Ela estava, agora, sendo perseguida por seu Inconsciente religioso que, implacavelmente, exigia-lhe a devida punição e purgação.

-Uma senhora de 58 anos, tornara-se tristonha e retraída após tomar conhecimento que o casamento de sua filha mais nova estava se deteriorando. Através da sua anamnese, soubemos que a referida filha não queria se casar com o seu atual marido porque gostava de outro. Como este outro era de pouco recurso material, sua família a pressionou a desistir dele e casar-se com o atual esposo; tendo sido  a sua mãe quem lhe fez a maior pressão para acabar com o namoro com aquele de quem a filha mais gostava. Ao saber que o marido maltratava a filha, ela passou a ter um comportamento auto-agressivo, não poupando sacrifícios e se recusando a qualquer ajuda, inclusive negando-se a procurar tratamento quando adoecia. O que acontecia com aquela senhora que antes era cheia de vida e alegria?

Com o seu Inconsciente culpando-a pelo insucesso conjugal da filha, procurava se punir (inconscientemente) para se redimir  de “tão grande erro”, quando forçou o casamento que fracassara, infelicitando a filha querida.É claro que esses comportamentos masoquistas não resolvem  problemas, porque se trata de uma defesa neurótica; isto é,um modo de agir impulsionado pelo Inconsciente cerebro-mental. Não resolvem porque o comportamento normal e adequado à vida são aqueles originados, planejados e impulsionados pelo Consciente cerebral-mental, que é a instância detentora da Razão, do Equilíbrio e do Bom-senso. É o Consciente que nos proporciona o comportamento que nos distingue dos animais inferiores; enquanto que o Inconsciente é o responsável pela fisiologia e  modo de agir dos irracionais. Por serem governados por seus Inconscientes é que não vemos bichos dando aulas, fazendo cirurgias, pesquisando remédios para as nossas doenças (e a deles),proferindo palestras em Universidades,etc. Qualquer atividade ou comportamento que não se origine do Consciente; poderá acarretar conseqüências negativas ao sujeito e à Sociedade. Não é isto que estamos vendo nas Sociedades Mundiais? O crime, a agressividade, as doenças e toda espécie de violência que assistimos os humanos cometer, diariamente, contra si e ao seu Meio ambiente? O masoquismo tem ligações com os desvios sexuais, com sentimentos de culpa, assim como pode se originar do hábito de sofrer. Vamos explicar melhor sobre esta última causa.

Uma pessoa que passou ou passa por sofrimentos marcantes em sua vida; acostuma-se à “má-sorte” e passa a crer que o infortúnio lhe é inevitável. Assim, ela se subestima, desvalorizando a própria imagem que todos nós idealizamos. É claro que, se uma pessoa é vítima de constantes adversidades ( o que pode ocorrer a qualquer um), tal pessoa pode imaginar que não é digna de viver,principalmente quando se compara com outras mais afortunadas. Quando o amor próprio é perdido, a pessoa se sente inferiorizada e os seus valores mais caros são rebaixados. Neste caso, é acertado pensar-se que ela, nessas circunstâncias, tenderá mais a valorizar o sofrimento do que o prazer, caracterizando o quadro masoquista. Qualquer comportamento repetitivo que resulte em prejuízos para quem o pratique, deve ser visto como uma forma de masoquismo.. Vê-se isto, entre os viciados no fumo, na bebida e outras drogas.

Nestes casos o viciado, embora conheça e sinta os efeitos negativos de seus hábitos, permanece entregue a eles, como se lhe existisse uma programação interna que o compele à ruína física, moral e mental. E, em nada resulta falar-lhe dos males futuros, nem tampouco esconder-lhe as drogas ou ameaçá-lo; pois ele dará um jeito para consegui-la. Todo processo compulsivo é inconsciente para o indivíduo; pois é inadmissível que alguém queira, conscientemente, a sua própria destruição psico-bio-social. Devemos cuidar de pessoas que, constantemente, estejam machucadas, feridas, dizendo-se “sem sorte”, repetindo atos nocivos, sendo enganadas por outrem, etc. É provável que estejam se punindo, inconscientemente. Neste caso, deve-se analisar a vida pregressa de tais pessoas, a fim de se procurar alguma forte frustração ou necessidade de “reparar” por algo “grave” cometido. O masoquismo quando se origina com a finalidade de aplacar sentimento de culpa, faz com que o inconsciente se utilize de outras pessoas para concretizar seus desejos de autopunição.

O masoquista costuma “fabricar” o seu próprio algoz, que é o Sádico. Este, normalmente, é uma pessoa que com ele convive e, principalmente, do sexo oposto. Isto, porque o homem é mais propenso ao sadismo e, a mulher, ao masoquismo. Contudo, com a inversão dos papéis e dos valores nos dias atuais, este quadro está se invertendo, estando a mulher se igualando ao homem em mais um dos distúrbios que era típico do masculino. Essas aberrações mentais são frutos da educação e/ou disfunções cérebros-mentais; onde a mulher é (era) treinada para a meiguice e afetividade; enquanto o homem era (e é) educado para a agressividade e a competição. Entretanto, com a nova “pedagogia liberal”, as mulheres estão sendo condicionadas à violência, à agressividade e a competição animalesca com os homens que mantinham a  dianteira nas doenças mentais e psicossomáticas. Tudo indica que logo estaremos em “pé de igualdade” com toda  degradação e anomalias, dantes reservadas aos primatas hominídeos.

A verdade é que antes os homens sofriam mais que as mulheres de enfermidades psicossomáticas, justamente pela violência e competição abestadas a que eram submetidos. Hoje, podemos estimar que  haja muita igualdade entre ambos; até nas doenças ! Quando se fala em masoquismo, outra afecção mental merece ser destacada; pois está ela em íntima relação com ele: é o Sadismo.   O nome deste distúrbio nasceu do comportamento doentio do Marquês de Sade (1740-1814) que costumava criar enredos teatrais nos quais os protagonistas eram maltratados com requintes de perversidade. Assim como no masoquismo, o sadismo pode ter origem na infância, no comprometimento do desenvolvimento psicossexual, propiciando a formação de aberrações sexuais na vida adulta, quando o desejo mórbido de ser maltratado (masoquismo) e o de maltratar (sadismo) são pré-requisitos para a gratificação, principalmente a satisfação sexual. Como no masoquismo, o sadismo pode se originar, também, de hábitos constantes e repetitivos, como: de vingança, de humilhar e de explorar os outros. Particularmente, acreditamos que o hábito é o maior gerador do elevado número de pessoas sádicas. Vamos, mais uma vez, nos valer de exemplos de casos clínicos, a fim de melhor entendermos esse tipo de aberração mental.

-Um homem, de aproximadamente 41 anos, implica constantemente com a esposa, causando transtornos em seu lar. Recentemente espancou a mulher, culminando com este gesto, numa, quase, separação do casal. Criaram um círculo vicioso de conflitos, onde o sofrimento passou a fazer parte da vida cotidiana dos mesmos. O marido, sem qualquer motivo aparente, a agredia. Ela, ao ser ofendida, ameaçava-o com a separação. O marido(que gostava muito dela) recuava por algum tempo e logo voltava às agressões, fazendo a esposa voltar a lhe ameaçar com a separação e ele ficava “manso” outra vez. Ao se analisar o histórico de vida de cada cônjuge, verificamos o seguinte: o marido viera de uma família onde os homens costumavam se agredir e agredirem as esposas. Enquanto a sua esposa foi criada no seio de uma família onde as mulheres costumavam se submeter às agressões de seus maridos. Nesses ambientes sem amor (quem ama não submete e nem se submete) e desestruturados, o casal em questão, acostumara-se com a dominação masculina e à submissão feminina. Daí resultou o masoquismo dela e o sadismo dele. Eles foram vítimas dos seus  hábitos familiares negativos.

-Outro exemplo de sadismo, mostra-nos como essa anomalia mental serviu para compensar um sentimento de culpa e a sua necessidade de “reparação”. O caso passou-se com uma jovem senhora, filha única, que ao se casar deixou sua mãe, viúva, morando sozinha. O seu casamento foi motivo de muito sofrimento para a mãe, a quem muito se apegava. Essa mãe fez o possível (inconscientemente) para a filha não se casar, a fim de continuar gozando de sua presença e companhia. Após sair da casa materna, aquela jovem senhora teve uma rápida felicidade conjugal, pois foi atormentada por forte sentimento de culpa quando via o semblante depressivo de sua mãe e ao ouvir de parentes e amigos que a sua mãe estava abandonada e sempre tristonha. A partir daí, a paciente ( a filha) passou a implicar com o seu esposo e por qualquer motivo o agredia. Este, por sua vez, que antes era muito paciente e pacífico, com pouco tempo tornou-se agressivo com ela. No decorrer de alguns meses o clima ficou tenso em sua casa e a esposa decidiu separar-se dele e voltar para a casa materna. A mãe muito se alegrou com a decisão de separação e com o seu retorno à sua companhia. 

Cumpriram-se, assim, as duas programações dos inconscientes mentais da mãe e da filha. A rapidez da separação conjugal (solicitada por ela); o sentimento de culpa por ter deixado a mãe “abandonada”; a lembrança constante do semblante sofrido dela e outros fatores; fizeram com que na jovem esposa “despertasse” o masoquismo (que todos nós temos um pouco) e o sadismo (que todos nós temos um pouco) no seu ex-esposo. É evidente que todos esses acontecimentos vêm de vetores inconscientes para todas as pessoas envolvidas nesses casos. Todas elas foram “vítimas” de seus Inconscientes cérebros-mentais..

É importante sabermos que o masoquismo e o sadismo podem se mesclar numa mesma pessoa, já que são patologias afins, constituindo-se no quadro chamado Sadomasoquista, conhecido por muitos. Raramente um masoquista não se comporta, também, como sádico;  e, este, como masoquista. Sobre o sadomasoquismo, recentemente tivemos a oportunidade de avaliar a sua força destrutiva, quando analisamos os fatores alienantes de uma família que veio à terapia. O exemplo abaixo dá-nos uma idéia real da inter-relação dessas patologias mentais que vitima inúmeras famílias, inclusive... a nossa!

-Homem de 25 anos, procurou tratamento psicoterápico a fim de livrar-se de sua dependência à bebida alcoólica. Durante a análise, quando se focalizou as relações interfamiliáres, verificou-se forte vinculação sadomasoquista, envolvendo, principalmente os seus pais. Estes estão casados há 28 anos, com atritos constantes entre si e com os filhos. Não há lembrança de afetividade entre eles. A mãe, encontrava-se abatida, queixando-se  de doenças e do “trabalho” que o marido e os filhos lhe dão. Faz questão de dizer que “pode morrer a qualquer hora”, de tantas preocupações e afazeres com a família. O pai demonstra apatia e submissão, diante da situação familiar, alegando que não podia fazer nada. Para continuar suportando a sua cruel realidade ele se embriaga com freqüência. Durante muitos anos a mãe assumiu a postura dominante e o esposo, a de submissão.

Apesar do Grande sofrimento de todos, havia “lucro” inconsciente para eles, naquele modelo patológico de ambiente familiar. A esposa, apesar de reclamar que tinha de cuidar de tudo, tornou-se conhecida pelos familiares e amigos como uma “mulher forte”, “dinâmica”,”protetora” e de “iniciativa”. Estes adjetivos lhe deram vaidade e amor-próprio, saciando o seu Ego (Consciente). O marido criou fama de desligado, irresponsável e incapaz; mas, ficou livre de ter de tomar atitudes, iniciativas e de realizar tarefas domésticas. Ele sofria muito com as acusações e críticas da mulher de muitos que o conheciam. Por isso se tornou masoquista pela ação sádica da esposa e dos que o criticavam. A mulher, ao maltratar o esposo, funcionava como sádica. Entretanto, quando começou a perceber que fazia o esposo sofrer ( e os seus filhos ), tornou-se também masoquista. Desta forma, ora atuava como sádica; ora, como masoquista. Estabeleceu-se  no grupo familiar o quadro sadomasoquista. O carrasco e a sua vítima e o torturado com o seu algoz, com o tempo, o costume e a prática; tornam-se faces da mesma moeda.

Finalmente, o que caracteriza o masoquismo e o sadismo, não é somente o sofrer e nem o fazer sofrer; mas, sim, a compulsão ao sofrimento e ao fazer sofrer, respectivamente. Caso não houvesse essa compulsão ( que é um impulso incontrolável que vem do Inconsciente) determinante, teríamos de admitir que todas as pessoas seriam sádicas e masoquistas (embora isto possa ser verdade em níveis não patológicos), considerando que no mundo atual todos sofrem e todos causam sofrimento, devido as próprias circunstâncias da vida moderna.

Não devemos nos admirar, quando deparamos com tanta violência e sofrimento que já se tornaram rotina no nosso dia-a-dia.

                         -----------------------------------

Nota: este trabalho foi escrito em dezembro de 1985. Como os hábitos, costumes e comportamentos negativos se acentuaram, o autor resolveu publicá-lo, novamente, após algumas atualizações.

Belo Horizonte, 7 de dezembro de 1985
São Paulo, 10 de fevereiro de 2011.


CARLEIAL. Bernardino Mendonça.



Psicólogo-Clínico pela Universidade Católica de Minas Gerais;
Estudante de Direito da Universidade Estácio de Sá-BH;
Escritor e Pesquisador nas áreas da Psicobiologia e do Direito.        


sábado, 12 de fevereiro de 2011

" O MASOQUISMO E O SADISMO DE CADA UM "



    “ O MASOQUISMO E O SADISMO DE CADA UM”


Masoquismo, termo largamente usado e popularizado, originou-se do nome do conde austríaco Leopoldo Sacher Von Masoch, que viveu entre os anos de 1836 e 1895. Ele escreveu diversas novelas cujos personagens se envolviam com prazeres associados à flagelação. Usualmente empregado no cotidiano, este termo perdeu a sua conotação original patológica para se constituir numa forma irônica de pequenas agressões físicas e/ou morais. Entretanto, na clínica, essa aberração continua sendo enfocada e tratada como uma anomalia psíquica. Aliás, nestas últimas décadas, as palavras que designavam patologias e, principalmente, anomalias cérebros-mentais, foram e estão sendo substituídas por termos mais “light”; como: deficiente auditivo, deficiente visual, cadeirante, etc., ao invés de surdo, cego, paralítico, etc.

O deficiente cérebro-mental, por exemplo, ganhou o sugestivo nome de “excepcional”; o que não deixa de ser estranho, tendo em vista que “excepcional” é sinônimo de “extraordinário”, de “muito bom”, de “excelência”, etc. O que não é o caso, pois qualquer deficiência não é nada agradável para quem a tem. Esta nova rotulação tem a finalidade de proteger, à distância, a imagem da pessoa, bem como a sua auto-estima; apesar de que pode, também, provocar uma acomodação em seu possuidor. Voltando ao tema Masoquismo, caracteriza-se ele, pela compulsão ao sofrimento. Isto é, o indivíduo é levado, involuntariamente, à busca do próprio sofrimento físico e/ou mental.

Normalmente, no ambiente terapêutico, quando o analista identifica em seu paciente o comportamento masoquista e o interpreta para ele; este se espanta, afirmando que não é “louco” para procurar o próprio sofrer. De fato, seria autêntica “loucura” alguém, deliberadamente, criar prejuízos para si. É claro que uma pessoa masoquista age inconscientemente e, na maioria das vezes, sem qualquer controle voluntário (consciente). Quando a mente consciente ( o Consciente ) fica alheia ao comportamento, seja por disfunções mentais,transtornos neurológicos e cerebrais ou por ação de drogas; este mesmo comportamento se manifesta de forma compulsiva e quase sempre negativa para quem o pratica e para os outros. É digno de espanto descobrir-se que muitos sofrimentos, prejuízos físicos, morais e materiais, são provocados pela própria pessoa.

Muitos transtornos da vida moderna são decorrentes desse tipo de perversão da mente enferma e as famílias sofrem grandes danos materiais e psicobiológicos com ele. O masoquismo é pouco notado porque não são analisadas, com profundidade, as origens dos dissabores que eles nos afligem no dia-a-dia. No trato diário com patologias diversas, verificam-se casos em que o masoquismo é o centro de vários distúrbios familiares, como nos casos que relataremos abaixo, para melhor exemplificar as formas do sofrimento masoquista:

-Uma mãe de 52 anos, estava preocupando os seus filhos, com o seu comportamento tristonho e pelo descuido de sua pessoa. Seus gestos traduziam uma grande desvalorização por sua imagem e por seu corpo. Evitava qualquer oportunidade para se divertir, procurando fazer tudo sozinha, recusando a ajuda dos filhos, implicando com as empregadas que lhe arranjavam para lhe ajudarem nos afazeres domésticos. Criou serviços estafantes e desnecessários, tornou-se perfeccionista, quando repetia muitas vezes o mesmo trabalho, alegando que não ficara bem feito. Fazia questão de fazer sozinha os trabalhos de casa, alegando que  “ninguém sabia fazer igual a ela”; ainda mais que nenhuma empregada permanecia por muito tempo em sua companhia, devido as suas “implicâncias”.

Trabalhava exaustivamente em casa, realizando tarefas pesadas e cansativas, como lavar o chão, limpar, repetidamente, os móveis e varrer a casa com freqüência, além da comida e outras coisas cansativas; apesar de os filhos a repreenderem por isso. Em nada adiantava as súplicas familiares; ela continuava executando mais e mais tarefas no lar. Cortava-se com freqüência na cozinha e machucava-se com facilidade nos seus excessivos cuidados domésticos. Isto era bastante suspeito, pois, quando ia para a casa de outras pessoas, comportava-se de forma oposta, cuidando e zelando por sua saúde e por seu bem-estar. Isto ficou evidente, quando da vez que passou alguns dias na casa de uma amiga. Ausente do seu lar, ela não se machucou, embora tivesse ajudado a amiga na cozinha e em algumas tarefas caseiras. Nesses dias de ausência do lar, foi mais comunicativa e alegre, em nada se parecendo com o seu comportamento sofrido, quando em sua própria casa. Enquanto permaneceu fora de casa, comportou-se ela como outra pessoa. 

A senhora X (vamos chamá-la assim) estava se martirizando, de forma masoquista, a fim de aplacar enorme sentimento de culpa por ter um filho deficiente. Inconscientemente ela estava se punindo por não ter sido capaz de gerar todos os seus filhos normais. O seu masoquismo começou quando esse filho cresceu e se mostrou incapaz de uma vida normal, sem os cuidados dos pais. Dessa forma,  sentia-se culpada pelo comprometimento do futuro desse filho. O seu masoquismo, levando-a ao sofrimento, é uma tentativa de sua mente inconsciente para compensar essa “culpa”. Ela estava “se fazendo de vítima”, como popularmente se diz. Mas, na verdade, essa mãe não queria ser vítima; assim como ninguém deseja! Este é o grande engano das pessoas que julgam esse comportamento, como uma mera “chantagem” emocional. O que lhe acontece é o fato de ter sido programada por seu Inconsciente para sofrer, por força das circunstâncias alheias a sua vontade; isto é, não sabe o que faz. É preciso observar que, quando  uma pessoa “se faz de vítima”, quase sempre está se sentindo rejeitada, com sentimento de culpa e afetivamente carente.

-Uma moça, de 26 anos, sentia-se feliz até essa idade, conforme nos afirmou, quando no início da terapia. Recentemente, após um aborto para se livrar de um filho indesejável, passou a apresentar crises depressivas, num estilo de vida onde a tônica era o seu próprio sofrimento. Dizia que tudo que fazia “dava zebra”. Até as companhias masculinas que antes lhe davam muito prazer, agora lhe acarretavam problemas de toda ordem. Magra, abatida e muito ansiosa, queria saber por que o seu comportamento atual era tão desastroso. A paciente fora criada numa família religiosa, onde o aborto é considerado um grave pecado. Ela estava, agora, sendo perseguida por seu Inconsciente religioso que, implacavelmente, exigia-lhe a devida punição e purgação.

-Uma senhora de 58 anos, tornara-se tristonha e retraída após tomar conhecimento que o casamento de sua filha mais nova estava se deteriorando. Através da sua anamnese, soubemos que a referida filha não queria se casar com o seu atual marido porque gostava de outro. Como este outro era de pouco recurso material, sua família a pressionou a desistir dele e casar-se com o atual esposo; tendo sido  a sua mãe quem lhe fez a maior pressão para acabar com o namoro com aquele de quem a filha mais gostava. Ao saber que o marido maltratava a filha, ela passou a ter um comportamento auto-agressivo, não poupando sacrifícios e se recusando a qualquer ajuda, inclusive negando-se a procurar tratamento quando adoecia. O que acontecia com aquela senhora que antes era cheia de vida e alegria? Com o seu Inconsciente culpando-a pelo insucesso conjugal da filha, procurava se punir (inconscientemente) para se redimir  de “tão grande erro”, quando forçou o casamento que fracassara, infelicitando a filha querida.É claro que esses comportamentos masoquistas não resolvem  problemas, porque se trata de uma defesa neurótica; isto é,um modo de agir impulsionado pelo Inconsciente cerebro-mental. Não resolvem porque o comportamento normal e adequado à vida são aqueles originados, planejados e impulsionados pelo Consciente cerebral-mental, que é a instância detentora da Razão, do Equilíbrio e do Bom-senso. É o Consciente que nos proporciona o comportamento que nos distingue dos animais inferiores; enquanto que o Inconsciente é o responsável pela fisiologia e  modo de agir dos irracionais. Por serem governados por seus Inconscientes é que não vemos bichos dando aulas, fazendo cirurgias, pesquisando remédios para as nossas doenças (e a deles),proferindo palestras em Universidades,etc. Qualquer atividade ou comportamento que não se origine do Consciente; poderá acarretar conseqüências negativas ao sujeito e à Sociedade. Não é isto que estamos vendo nas Sociedades Mundiais? O crime, a agressividade, as doenças e toda espécie de violência que assistimos os humanos cometer, diariamente, contra si e ao seu Meio ambiente? O masoquismo tem ligações com os desvios sexuais, com sentimentos de culpa, assim como pode se originar do hábito de sofrer. Vamos explicar melhor sobre esta última causa.

Uma pessoa que passou ou passa por sofrimentos marcantes em sua vida; acostuma-se à “má-sorte” e passa a crer que o infortúnio lhe é inevitável. Assim, ela se subestima, desvalorizando a própria imagem que todos nós idealizamos. É claro que, se uma pessoa é vítima de constantes adversidades ( o que pode ocorrer a qualquer um), tal pessoa pode imaginar que não é digna de viver,principalmente quando se compara com outras mais afortunadas. Quando o amor próprio é perdido, a pessoa se sente inferiorizada e os seus valores mais caros são rebaixados. Neste caso, é acertado pensar-se que ela, nessas circunstâncias, tenderá mais a valorizar o sofrimento do que o prazer, caracterizando o quadro masoquista. Qualquer comportamento repetitivo que resulte em prejuízos para quem o pratique, deve ser visto como uma forma de masoquismo.. Vê-se isto, entre os viciados no fumo, na bebida e outras drogas.

Nestes casos o viciado, embora conheça e sinta os efeitos negativos de seus hábitos, permanece entregue a eles, como se lhe existisse uma programação interna que o compele à ruína física, moral e mental. E, em nada resulta falar-lhe dos males futuros, nem tampouco esconder-lhe as drogas ou ameaçá-lo; pois ele dará um jeito para consegui-la. Todo processo compulsivo é inconsciente para o indivíduo; pois é inadmissível que alguém queira, conscientemente, a sua própria destruição psico-bio-social. Devemos cuidar de pessoas que, constantemente, estejam machucadas, feridas, dizendo-se “sem sorte”, repetindo atos nocivos, sendo enganadas por outrem, etc. É provável que estejam se punindo, inconscientemente. Neste caso, deve-se analisar a vida pregressa de tais pessoas, a fim de se procurar alguma forte frustração ou necessidade de “reparar” por algo “grave” cometido. O masoquismo quando se origina com a finalidade de aplacar sentimento de culpa, faz com que o inconsciente se utilize de outras pessoas para concretizar seus desejos de autopunição.

O masoquista costuma “fabricar” o seu próprio algoz, que é o Sádico. Este, normalmente, é uma pessoa que com ele convive e, principalmente, do sexo oposto. Isto, porque o homem é mais propenso ao sadismo e, a mulher, ao masoquismo. Contudo, com a inversão dos papéis e dos valores nos dias atuais, este quadro está se invertendo, estando a mulher se igualando ao homem em mais um dos distúrbios que era típico do masculino. Essas aberrações mentais são frutos da educação e/ou disfunções cérebros-mentais; onde a mulher é (era) treinada para a meiguice e afetividade; enquanto o homem era (e é) educado para a agressividade e a competição. Entretanto, com a nova “pedagogia liberal”, as mulheres estão sendo condicionadas à violência, à agressividade e a competição animalesca com os homens que mantinham a  dianteira nas doenças mentais e psicossomáticas. Tudo indica que logo estaremos em “pé de igualdade” com toda  degradação e anomalias, dantes reservadas aos primatas hominídeos.

A verdade é que antes os homens sofriam mais que as mulheres de enfermidades psicossomáticas, justamente pela violência e competição abestadas a que eram submetidos. Hoje, podemos estimar que  haja muita igualdade entre ambos; até nas doenças ! Quando se fala em masoquismo, outra afecção mental merece ser destacada; pois está ela em íntima relação com ele: é o Sadismo.   O nome deste distúrbio nasceu do comportamento doentio do Marquês de Sade (1740-1814) que costumava criar enredos teatrais nos quais os protagonistas eram maltratados com requintes de perversidade. Assim como no masoquismo, o sadismo pode ter origem na infância, no comprometimento do desenvolvimento psicossexual, propiciando a formação de aberrações sexuais na vida adulta, quando o desejo mórbido de ser maltratado (masoquismo) e o de maltratar (sadismo) são pré-requisitos para a gratificação, principalmente a satisfação sexual. Como no masoquismo, o sadismo pode se originar, também, de hábitos constantes e repetitivos, como: de vingança, de humilhar e de explorar os outros. Particularmente, acreditamos que o hábito é o maior gerador do elevado número de pessoas sádicas. Vamos, mais uma vez, nos valer de exemplos de casos clínicos, a fim de melhor entendermos esse tipo de aberração mental.

-Um homem, de aproximadamente 41 anos, implica constantemente com a esposa, causando transtornos em seu lar. Recentemente espancou a mulher, culminando com este gesto, numa, quase, separação do casal. Criaram um círculo vicioso de conflitos, onde o sofrimento passou a fazer parte da vida cotidiana dos mesmos. O marido, sem qualquer motivo aparente, a agredia. Ela, ao ser ofendida, ameaçava-o com a separação. O marido(que gostava muito dela) recuava por algum tempo e logo voltava às agressões, fazendo a esposa voltar a lhe ameaçar com a separação e ele ficava “manso” outra vez. Ao se analisar o histórico de vida de cada cônjuge, verificamos o seguinte: o marido viera de uma família onde os homens costumavam se agredir e agredirem as esposas. Enquanto a sua esposa foi criada no seio de uma família onde as mulheres costumavam se submeter às agressões de seus maridos. Nesses ambientes sem amor (quem ama não submete e nem se submete) e desestruturados, o casal em questão, acostumara-se com a dominação masculina e à submissão feminina. Daí resultou o masoquismo dela e o sadismo dele. Eles foram vítimas dos seus  hábitos familiares negativos.

-Outro exemplo de sadismo, mostra-nos como essa anomalia mental serviu para compensar um sentimento de culpa e a sua necessidade de “reparação”. O caso passou-se com uma jovem senhora, filha única, que ao se casar deixou sua mãe, viúva, morando sozinha. O seu casamento foi motivo de muito sofrimento para a mãe, a quem muito se apegava. Essa mãe fez o possível (inconscientemente) para a filha não se casar, a fim de continuar gozando de sua presença e companhia. Após sair da casa materna, aquela jovem senhora teve uma rápida felicidade conjugal, pois foi atormentada por forte sentimento de culpa quando via o semblante depressivo de sua mãe e ao ouvir de parentes e amigos que a sua mãe estava abandonada e sempre tristonha. A partir daí, a paciente ( a filha) passou a implicar com o seu esposo e por qualquer motivo o agredia. Este, por sua vez, que antes era muito paciente e pacífico, com pouco tempo tornou-se agressivo com ela. No decorrer de alguns meses o clima ficou tenso em sua casa e a esposa decidiu separar-se dele e voltar para a casa materna. A mãe muito se alegrou com a decisão de separação e com o seu retorno à sua companhia. 

Cumpriram-se, assim, as duas programações dos inconscientes mentais da mãe e da filha. A rapidez da separação conjugal (solicitada por ela); o sentimento de culpa por ter deixado a mãe “abandonada”; a lembrança constante do semblante sofrido dela e outros fatores; fizeram com que na jovem esposa “despertasse” o masoquismo (que todos nós temos um pouco) e o sadismo (que todos nós temos um pouco) no seu ex-esposo. É evidente que todos esses acontecimentos vêm de vetores inconscientes para todas as pessoas envolvidas nesses casos. Todas elas foram “vítimas” de seus Inconscientes cérebros-mentais..

É importante sabermos que o masoquismo e o sadismo podem se mesclar numa mesma pessoa, já que são patologias afins, constituindo-se no quadro chamado Sadomasoquista , conhecido por muitos. Raramente um masoquista não se comporta, também, como sádico;  e, este, como masoquista. Sobre o sadomasoquismo, recentemente tivemos a oportunidade de avaliar a sua força destrutiva, quando analisamos os fatores alienantes de uma família que veio à terapia. O exemplo abaixo dá-nos uma idéia real da inter-relação dessas patologias mentais que vitima inúmeras famílias, inclusive... a nossa!

-Homem de 25 anos, procurou tratamento psicoterápico a fim de livrar-se de sua dependência à bebida alcoólica. Durante a análise, quando se focalizou as relações interfamiliáres, verificou-se forte vinculação sadomasoquista, envolvendo, principalmente os seus pais. Estes estão casados há 28 anos, com atritos constantes entre si e com os filhos. Não há lembrança de afetividade entre eles. A mãe, encontrava-se abatida, queixando-se  de doenças e do “trabalho” que o marido e os filhos lhe dão. Faz questão de dizer que “pode morrer a qualquer hora”, de tantas preocupações e afazeres com a família. O pai demonstra apatia e submissão, diante da situação familiar, alegando que não podia fazer nada. Para continuar suportando a sua cruel realidade ele se embriaga com freqüência. Durante muitos anos a mãe assumiu a postura dominante e o esposo, a de submissão.

Apesar do Grande sofrimento de todos, havia “lucro” inconsciente para eles, naquele modelo patológico de ambiente familiar. A esposa, apesar de reclamar que tinha de cuidar de tudo, tornou-se conhecida pelos familiares e amigos como uma “mulher forte”, “dinâmica”,”protetora” e de “iniciativa”. Estes adjetivos lhe deram vaidade e amor-próprio, saciando o seu Ego (Consciente). O marido criou fama de desligado, irresponsável e incapaz; mas, ficou livre de ter de tomar atitudes, iniciativas e de realizar tarefas domésticas. Ele sofria muito com as acusações e críticas da mulher de muitos que o conheciam. Por isso se tornou masoquista pela ação sádica da esposa e dos que o criticavam. A mulher, ao maltratar o esposo, funcionava como sádica. Entretanto, quando começou a perceber que fazia o esposo sofrer ( e os seus filhos ), tornou-se também masoquista. Desta forma, ora atuava como sádica; ora, como masoquista. Estabeleceu-se  no grupo familiar o quadro sadomasoquista. O carrasco e a sua vítima e o torturado com o seu algoz, com o tempo, o costume e a prática; tornam-se faces da mesma moeda.

Finalmente, o que caracteriza o masoquismo e o sadismo, não é somente o sofrer e nem o fazer sofrer; mas, sim, a compulsão ao sofrimento e ao fazer sofrer, respectivamente. Caso não houvesse essa compulsão ( que é um impulso incontrolável que vem do Inconsciente) determinante, teríamos de admitir que todas as pessoas seriam sádicas e masoquistas (embora isto possa ser verdade em níveis não patológicos), considerando que no mundo atual todos sofrem e todos causam sofrimento, devido as próprias circunstâncias da vida moderna.

Não devemos nos admirar, quando deparamos com tanta violência e sofrimento que já se tornaram rotina no nosso dia-a-dia.

                         -----------------------------------

Nota: este trabalho foi escrito em dezembro de 1985. Como os hábitos, costumes e comportamentos negativos se acentuaram, o autor resolveu publicá-lo,novamente, após algumas atualizações.

Belo Horizonte, 7 de dezembro de 1985
São Paulo, 10 de fevereiro de 2011.


CARLEIAL. Bernardino Mendonça.



Psicólogo-Clínico pela Universidade Católica de Minas Gerais;
Estudante de Direito da Universidade Estácio de Sá-BH;
Escritor e Pesquisador nas áreas da Psicobiologia e do Direito.        



quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

" A CONCEPÇÃO DO TEMPO "

                    “A  CONCEPÇÃO  DO  TEMPO” 

No verão de 1990, o autor deste trabalho necessitou com urgência de um táxi para atender  uma emergência.O Tempo de espera pela condução que o levaria ao local desejado foi o triplo do normal que se espera por um táxi quando não se tem tanta pressa. Quando apareceu um, em condições de levá-lo, o trajeto foi repleto de obstáculos à locomoção rápida do veículo, como: engarrafamento, semáforos fechados e pedestres atrapalhando o trânsito. Lembrei-me que em outras condições normais, quando não se tem pressa ou urgência, muitos taxis vazios e muitos ônibus passam ao nosso lado e os semáforos ficam todos verdes e pouco ou nenhum engarrafamento atrapalham a nossa viagem. Observando muitos fatos como estes, pesquisando e analisando relatos semelhantes de diversas pessoas, decidimos escrever sobre eles, a fim de proporcionar idéias  e estudos mais aprofundados de outros pesquisadores, sobre tão inusitados fenômenos.

                                   -------------------------------

Uma das coisas curiosas da nossa vida é a concepção do tempo em determinadas circunstâncias. Sabe-se que de acordo com o nosso estado mental, percebemos de formas variadas e, até opostas, a passagem das horas. Essa distorção temporal é mais evidente nas sensações dos extremos: “prazer-sofrimento” e “tristeza-alegria”. Muitos de nós já experimentamos a aflição de “ver” o tempo “não passar”, nos momentos de grande ansiedade, aflição e sofrimento.

Uma noite com dor de dente, por exemplo, a espera de um resultado cirúrgico,  quando os familiares aflitos aguardam a recuperação do paciente agravado. O resultado de um concurso ou de uma chance para um emprego; a espera que o dia amanheça em uma longa noite de insônia; a expectativa ansiosa de alguém que espera o retorno da pessoa amada; o táxi que não aparece quando estamos apressados; o mal-estar pela demora de um filme, teatro ou qualquer cerimônia que não estão nos agradando; ou que fomos forçados a assistir. Como por outros exemplos, podemos citar a noite interminável em um velório; a longa noite de um náufrago, debatendo-se na escuridão do Oceano, à espera do socorro! A angústia prolongada, quando se aguarda o apito final de um jogo finalista na Copa do Mundo, por exemplo, quando a nossa Seleção está vencendo apenas por um tento! A espera demasiadamente longa de um feliz ganhador da Loteria, aguardando o dia seguinte para por as mãos na sua “bolada” que está guardada na Caixa Econômica. Sinta a lentidão do tempo quando se espera  a comida que não fica pronta quando se está com muita fome! Veja outras situações adversas que nos dão a impressão de que o tempo se arrasta com lentidão enervante. Muito sentimos e ouvimos falar da “elasticidade” do tempo, nesses momentos de ansiedade que de uma forma ou de outra, todos nós experimentamos durante a nossa existência. E o contrário, quando os momentos que vivenciamos são alegres e desejados?

Aí, sucede-se o contrário! Temos a nítida impressão que as horas fogem rapidamente. “ O tempo voa”; é o que dizem as pessoas nos momentos de alegria e de prazer. Quando estamos em uma festa que nos agrada; num espetáculo ou evento alegre, desejado e que nos apraz! Nesses casos a sensação que temos é que tudo aconteceu em segundos e nem percebemos a rapidez do tempo que passou, entre o começo e o fim  desses fatos agradáveis. Veja os quatro dias de Carnaval para os foliões; passam como um relâmpago e como chega depressa à quarta-feira de cinzas! Entretanto, para os que não gostam do Carnaval e querem ter sossego; aqueles dias de festa duram uma eternidade! Como sentimos curta a duração de um filme que está nos agradando; mesmo que o filme seja de longa metragem. A  impressão que se tem é que duraram alguns minutos.

Também acontece o mesmo na leitura de um livro ou revista agradáveis; o início da leitura e o seu término estão tão próximos que ficamos contando as páginas que faltam, torcendo para não acabarem. O contrário ocorre, quando não estamos gostando da leitura ou fomos forçados a ler para atender alguém ou para fazer um trabalho escolar; neste caso, quanto mais lemos depressa, mais páginas ainda faltam para acabar e ficamos contando as restantes, ansiosos para logo acabarem. Veja como passam rápidos os dias de nossas férias e como se prolongam os dias de trabalho para quem está estressado e “doido” para viajar e gozar as férias! Se formos doentes para um hospital, como se arrastam as horas antes da “alta”  e como “correm” as horas após a “alta” do hospital! Dá para se avaliar o sofrimento das pessoas que são seqüestradas, com a demora nas negociações para a sua libertação. É só perguntarmos a quem passou por tal experiência, que ouvirá sobre a angústia do tempo interminável nas mãos dos bandidos. Outro exemplo comum da lentidão do tempo quando se sofre é o que acontece com as pessoas que têm medo de viajar de avião.

Essas pessoas se angustiam com a lentidão das horas do vôo; entretanto, quando estão na sala de espera e até chegarem à porta da aeronave, o tempo passa rapidíssimo! São tantos os exemplos dessas distorções da percepção do tempo que se fôssemos enumerá-los, teríamos que preencher muitas páginas com eles. Uma das mais flagrantes distorções quanto à aceleração das horas nos momentos agradáveis é quanto ao prazer sexual. Não é novidade que o sexo sadio, respeitoso e romântico entre duas pessoas conscientes e que se amam, é a emoção mais prazerosa que um ser humano pode experimentar. É neste caso que o tempo nos dá a impressão mais nítida de sua fluidez e finitude. A fugacidade do prazer erótico é notório e patente, principalmente para os sexo-maníacos, deixando os amantes com a sensação que tudo não passou de uma ilusão e que o gozo foi uma quimera, uma fantasia (embora o orgasmo tenha acontecido há apenas alguns minutos).

O sono é outro exemplo da “rapidez” da passagem das horas. Para quem dorme por não “ver” o tempo passar, quando acorda tem a impressão que o tempo passou muito rapidamente. Por isso é que muitas pessoas quando estão em conflito, dormem muito; tal como se vê entre os depressivos e em alguns neuróticos. Há ocasiões em que somos mais afetados pela percepção distorcida do tempo. Estas ocasiões se evidenciam mais nos elevadores e nos semáforos.

Quando estamos em um elevador conduzindo um peso; quando estamos com pressa ou quando a presença de outra pessoa nos incomoda; temos a impressão que o elevador ficou mais lento e que o andar desejado demora mais a chegar. Experimente contar os andares que passam pela janelinha do elevador! Parece que eles se “alongaram”. Agora, veja o que acontece quando você não está com pressa para chegar ao seu andar porque tem uma bela e boa companhia ao seu lado; seja porque está lendo uma notícia muito interessante no jornal ou numa revista. Neste caso, é impressionante  a “rapidez” do elevador em chegar ao andar desejado. Outro exemplo clássico é quando paramos o carro em um semáforo. Quando estamos apressados ele “demora” mais em abrir; quando estamos tranqüilos e sem pressa e aproveitamos a parada para dar uma olhadela em um jornal ou revista. Logo nos assustamos com as buzinadas dos carros na nossa traseira. Pergunte a qualquer motorista de táxi sobre estes fenômenos que ele logo nos dará razão sobre o que estamos escrevendo. Quando esses profissionais param no sinal e estão sem passageiro, eles têm a sensação que o semáforo fica verde mais rapidamente do que, quando estão conduzindo alguém. Bem que eles gostariam,quando estão sem passageiro, de ficar mais tempo parados diante do sinal vermelho, a fim de economizar combustível e ser visto por algum passageiro em potencial. Uma boa dica para se “enganar o tempo” quando se tem pressa, é levar consigo uma boa leitura para se ler no elevador e quando paramos nos semáforos. Pode estar certo que o elevador e os sinais de trânsito “ficarão mais rápidos” que de costume.

Que proveito poderemos tirar para a nossa reflexão, dos fatos que aqui reunimos e analisamos  sobre esses estados de percepção distorcida do tempo? E, se não for uma distorção; mas, sim, uma realidade que ainda não entendemos, por se tratar de outra dimensão do espaço temporal além da nossa concepção daquilo que chamamos de tempo!  Estes exemplos nos servem para meditar sobre a forma de vida que cada um de nós pratica e a sensação da nossa própria duração terrena. Analisemos a fugaz duração da vida das pessoas socialmente famosas, badaladas e festivas! Veja as pessoas famosas que se destacam por sua beleza exterior, por sua riqueza material ou por seu poder (que são os requisitos considerados e desejados por bilhões). Tais pessoas parecem envelhecer mais cedo que o comum dos mortais, que não são considerados “bonitos”; não têm riqueza material e nem poder, que são os requisitos repelidos por bilhões e são os pré-requisitos do sofrimento e do desprazer.

A vida das pessoas simples e humildes parece-nos mais alongadas que as das pessoas sofisticadas, ricas e festivas, cujas existências passam muito depressa.  Este exemplo é muito destacado entre as pessoas simples  da população rural. Para estes, o tempo parece passar preguiçosamente e os dias são “esticados”. Como os pobres sofrem mais que os ricos e, como vimos acima, a impressão que se tem é que o tempo é mais “lerdo” no padecimento que na opulência; temos a nítida noção que a vida se esvai mais rapidamente nos prazeres do que no sofrer. Note-se a sensação que nos parece a meteórica passagem dos ídolos do cinema, dos atores famosos, das atrizes, das beldades físicas, dos políticos e poderosos do nosso e dos outros tempos! Porque percebemos que a vida se escoa rapidamente quando a vivemos no luxo e, lentamente, quando a vivenciamos sem a fortuna material? Os estados emocionais que chamamos tristeza, sofrimento e desprazer; são também opostos aos que denominamos de alegria, prazer, euforia, etc. Na depressão o tempo “fica retardado” e, na euforia, ele se “acelera”.

Imaginemos como deve sentir a passagem veloz do tempo, aquele que está condenado à morte, aguardando o momento da sua execução! Ao contrário, o condenado à prisão perpétua, “vê” os, dias se arrastarem, anos após anos, num infindável contar de horas. Parece-nos que até o momento (lembre-se o leitor que estamos no verão de 1990) não se pesquisou os fatores psicobiológicos inerentes a tais fenômenos. Cremos que o estudo científico desse assunto, traria benefícios significativos à vida dos humanos, haja vista que o “espichamento” da vida é um sonho acalentado por todos, principalmente pelos que têm muito a perder com a finitude da vida terrena. Acreditamos, também, que a sua compreensão científica não é tarefa muito fácil, levando-se em consideração as implicações neuronais, bioquímicas, teológicas, psicológicas e filosóficas que estão envolvidas nesses fenômenos. Basta lembrarmos que estamos falando de fatores emocionais mediados por estruturas cerebrais já bem definidas, como o sistema límbico, córtex cerebral, hipotálamo e outros componentes que produzem a Mente; com a interveniência de neurotransmissores, hormônios, enzimas, etc., a níveis encefálicos.

Uma boa pista indicativa da ação bioquímica nesses estados anômalos da percepção; são as sensações narradas pelos usuários de drogas alucinógenas; esses indivíduos contam que, quando a “viagem” é agradável; a duração da experiência gratificante é rapidíssima. Ao contrário, quando passam por dissabores, com visões fantasmagóricas e terrificas;  a  “viagem” dura uma “eternidade”, prolongando, desta forma, o seu sofrimento. Será somente coincidência que as drogas psicotrópicas ocupam os mesmos locais dentro do cérebro onde também atuam os transmissores do prazer e da dor? E o relógio biológico cerebral que coordena os estados de vigília e do sono? É acalentador sabermos que os avanços recentes das neurociências, talvez possam nos responder, ainda nesta década, a tão intrigantes mistérios da mente.

               -------------------------------------------------------------

CARLEIAL. Bernardino Mendonça

Psicólogo-Clínico pela Universidade Católica de Minas Gerais;

Estudante de Direito da Universidade Estácio de Sá,em Belo Horizonte;

Escritor e Pesquisador nas áreas da Psicobiologia e do Direito.