"O IMPÉRIO DO BARULHO"
(Mais uma Forma de Agressão )
Eu estava parado em um semáforo quando escutei um grande barulho que me fez estremecer e o meu carro vibrar. Por mais que fechasse os vidros, continuei a ouvir e a sentir na pele o estridente e infernal barulho. A origem daquilo estava no veículo que parara ao lado e o autor da aberração sonora era, como sempre, um rapazola com pouco mais de vinte anos. O carro era velho, desses há muito saídos de fabricação. Estava com o porta-malas escancarado para mostrar a todos um monte de alto-falantes que berravam no mais alto grau de estupidez e de ignorância. A barulheira era tamanha que se deveria medi-la, não em decibéis; mas, em quilobéis. O barulhento motorista não deve mais possuir nenhum vestígio do seu antigo aparelho auditivo. Pior era o que saía, em altíssimo e péssimo som, das suas múltiplas "bocas-falantes", abertas para todos nós, transeuntes e demais motoristas. A voz do "cantor", que mais falava que cantava, era rouca e assemelhava-se a grunhidos raivosos que vociferavam contra tudo e todos.
O que aquele motorista nos obrigava a ouvir era a desestruturação do som; a degenerescência musical; a anti-música e a própria anti-cultura. Qualquer dicionário nos diz que a "música é a arte e a ciência de combinar os sons, de modo que agradem aos ouvidos". Esta definição vai de encontro a quase tudo a que estamos forçados a ouvir por aí. A "letra" do descalabro que saía daquele carro era uma salada indigesta de promiscuidade sócio-cultural; apimentada com agressividade, violência, prostituição, imoralidade, amoralidade e ensinamentos (mal planejados) de guerrilha suburbana. Ali, ao meu lado, estava o nosso jovem barulhento: o futuro, nada promissor, do nosso Brasil ! Mas, não são somente os carros velhos, pobres e baratos que são barulhentos! Os carros barulhentos, sejam novos, bonitos, ricos e caros têm como motoristas cérebros e mentes semelhantes; a prova que libertinagem se confundiu com liberdade . Aquela famosa frase do Direito que diz: “Todos são iguais perante a Lei”; tornou-se bem legal e geral; todavia, de forma caolha e zarolha, podendo ser lida assim: “ Todos são iguais e livres para delinqüirem e libertinarem...... à vontade".
É importante observar que raramente vemos uma mulher ao volante se comportando de tal forma. Pelo contrário, seja ela pobre ou rica; letrada ou inculta; são quase sempre recatadas, silenciosas, prudentes, respeitosas e cuidadosas quando estão dirigindo. Sinto-me mais seguro e tranqüilo quando o carro que está à minha frente, atrás ou nos lados; é dirigido por uma mulher; pois sei que não irei ouvir nenhuma buzinada, "cantada de pneus”, palavrões, não sofrerei alguma "fechada" ou qualquer outra demonstração de infantilismo primata da maioria dos motoristas "machos".
A imaturidade dessa maioria masculina de motoristas é a responsável direta pelos mais de 50.000 mortes, nos cerca de 350.000 acidentes anuais, aproximadamente, em nosso país, além de outros tantos feridos, incapacitados físicos e mentais, aposentadorias precoces, prejuízos trabalhistas, processuais, viuvez, orfandade,dores , sofrimentos e desamparo familiar; além dos bilhões de reais gastos pela Previdência social e Privada, etc., etc. Alguém já procurou pesquisar a proporção de mulheres que provocam esses alarmantes índices de imaturidade, descaso e imbecilidade envolvidos nos acidentes de trânsito ? Se procurarem, garanto que vão encontrar um número baixíssimo de mulheres responsável por mais esse tipo de crime que nos faz manter o vergonhoso título de campeões mundiais. Ganhar o Prêmio Nobel; nunca conseguimos; mas, no futebol, nas "balas perdidas", nos assaltos, drogas, assassinatos, corrupção, roubo e crimes de toda natureza; somos Campeões Mundiais. Acredito que o número de acidentes e o grau de violência no trânsito irá diminuir, na proporção do aumento de mulheres dirigindo. Esse aspecto, o do feminino no trânsito, é muito curioso e de muita importância sociológica e antropológica, merecendo uma análise posterior mais aprofundada.
Voltando ao motorista barulhento, estava ele sorridente e feliz da vida, olhando para os lados, a fim de conferir os aplausos e a aceitação dos ouvintes e seus expectadores, principalmente das mocinhas desavisadas. Esse fato não é isolado; muito pelo contrário, motoristas do mesmo calibre mental estão circulando aos montes pelas ruas e estradas, extravasando as suas frustrações, suas mazelas materiais e existenciais, os seus sentimentos de pouca valia e os seus complexos de inferioridade. Enquanto isso, as nossas integridades físicas, mentais e econômicas estão sendo debilitadas pelos arroubos infantis desses muitos desestruturados. Milhares deles estão dirigindo seus carros e motos, acelerando fundo, uivando alto através das descargas de seus veículos e roncando forte nos seus múltiplos alto-falantes, de dia e de noite e pelas madrugadas nossas, obrigando a mantermos fechados os vidros dos nossos carros e as janelas de nossas casas. O pior é que a maioria de nós está se acostumando e se acomodando com o desatino desses enfermos mentais que, impunemente, sob a égide da libertinagem (travestida de liberdade) que assola o País, azucrinam os nossos ouvidos e atormentam o nosso viver. Já não bastam as tensões no trânsito provocadas pelos engarrafamentos crescentes; pelas buzinadas estridentes de outros doentes; pela poluição do ar; pela violência e agressividade dos motoristas; pelas "canetadas" dos guardiões do trânsito; pela voracidade do Estado em arrecadar fundos e mundos; pelos onipresentes "tomadores de conta" que se apoderaram das ruas e dos nossos carros; etc. etc., Além disso, tudo, ainda temos que tolerar essa escória sonora!
A música brasileira autêntica e as obras clássicas de todos os tempos, que por gerações enlevaram o bom-senso passado; foram substituídas por esse lixo estridente, importado da periferia nova-iorquina, das penitenciárias e dos guetos americanos. A barulheira tornou-se moda em quase todas as atividades sociais. Ela está presente nos cinemas, teatros, escolas, supermercados, lanchonetes, bares, botecos, boates, nas festinhas de adultos e de infanto-juvenis; até mesmo em certas Igrejas que, pela intensa gritaria dos devotos, pensam eles que Deus é surdo. É um atentado e deboche generalizado contra o bom-senso dos que ainda o tem. Qualquer indivíduo, sem distinção social, raça, credo ou idade está liberado por leis extravagantes, promulgadas por políticos e governantes irresponsáveis, desejosos dos votos desses milhões de imaturos ruidosos, para promoverem à vontade, farras sonoras, quer seja com um radinho de pilha pregado nas orelhas, no carro, em festinhas particulares e públicas ou em quaisquer eventos sociais.
Nos espaços públicos, as arruaças sonoras extrapolam a paciência até de um monge beneditino. Algumas praças públicas são um bom exemplo do descalabro sonoro licenciado pelos governantes eleitoreiros. Prefeituras gastam nossos impostos na construção e restauração de alguns desses espaços públicos, ditos culturais, para o uso e o bel-prazer de grupos barulhentos que nada produzem de cultura ou lazer positivo, além de fazerem a alegria dos prósperos industriais e comerciantes do alcoolismo. Porque será que todo evento público é sempre patrocinado e alegremente anunciado por essas empresas do álcool? Sabemos que as drogas psicotrópicas (como o álcool) liberam os instintos mais primários do Inconsciente, fazendo com que pessoas frustradas, recalcadas, complexadas, etc., liberem tais impulsos perigosos para o social, através de comportamentos agressivos e violentos; explicando as razões da "explosão dos decibéis sonoros", das agressões, das pichações, do vandalismo, da violência e da depredação dos bens públicos. Porque há tanto interesse de alguns governantes, artistas, publicitários, comerciantes e empresários de bebidas alcoólicas em embebedarem as pessoas; principalmente as mais carentes e incultas? Quase toda essa barulheira e disparate comportamental acontecem sob o olhar e ouvidos dos governantes e autoridades; financiado por nós, pobres e inocentes vítimas da agressividade e do tumulto auditivo da nossa inversão de valores em que já nos acostumamos. Muitos desses festivais infernais e barulhentos são publicamente promovidos por Órgãos Públicos ,porque elegemos políticos corruptos e incompetentes que querem agradar os ignorantes barulhentos para terem os seus votos, perpetuando-se no poder e, mancomunados com os produtores e vendedores de bebidas, arrecadarem dinheiro com as vendas desgovernadas dos vícios;propagando distúrbios mentais e auditivos , além de promoverem os vícios do alcoolismo , do tabagismo e outros não muito inocentes e salutares. Arrecadam dinheiro com a venda do barulho e do vício; para gastarem depois com a segurança pública, com a nossa saúde abalada pela desordem sonora e com a manutenção dos locais onde esses mesmos desordeiros fizeram e fazem as suas farras auditivas. O barulho é a distorção do som; sendo, portanto um tipo de neurose. Esse comportamento doentio é estudado e explicado no nosso trabalho " A Neurose do Barulho", publicado em 03/02/85, no "Estado de Minas" e no livro "A Psicobiologia do Comportamento".
Os barulhentos dizem que " os incomodados devem se retirar" ! Além de essa frase ser um insulto e uma ofensa Constitucional, devemos perguntar: "retirar-se para onde?" Os nossos "valorosos" e “festivos jovens” estão fazendo o mesmo em qualquer lugar da Terra, globalizado pelo condicionamento perverso, negativo e nocivo da TV, da Mídia e da Internet, nas suas mentes imaturas e já desestruturadas. Não há nenhuma cidade, grande ou pequena, em que a epidemia neurótica do barulho não tenha se instalado. Os meninos (e muitos adultos imaturos e desestruturados) estão com os mesmos modos, moda e hábitos "sonoros" aqui, ali e alhures. É uma verdadeira pandemia de mediocridade cultural que avassala o Planeta, já tão maltratado por incontáveis outras aberrações predatórias. No mundo inteiro a moçada toca, dança, canta, curte e degusta a mesma insalubridade sonora, cuja tendência é aumentar de intensidade e a quantidade reinante de neuróticos. Avalio que, além da violência, logo-logo não encontraremos um só lugar onde possamos nos esconder da agressividade da "música" degradada. A turma do barulho não é onisciente; contudo, é onipresente e quase onipotente. Brevemente os que ainda possuírem aparelho auditivo, terão que usar tapa-orelha, se tornar assassinos em série ou praticarem o "haraquiri".
O barulho é o atestado e a certidão da imaturidade de quem o promove. Como os outros tipos de violência, ele é a marca registrada desta nossa pobre e desregrada época ; um degradante momento histórico em que sepultamos a Educação, a Família, A Moral, o Caráter, a Ética, a Honestidade, a Dignidade; enfim, todas as características que nos distinguiam dos Protozoários.
Os meios de comunicação, principalmente a Televisão e a Internet estão aí, florescentes, ricos e empanturrados de mediocridades, condicionando-nos aos maus costumes e à degeneração das mentes inconscientes dos bilhões de imaturos, num vendaval sem freio de ensinamentos nocivos e degradantes. Em silêncio, concluímos, repetindo as palavras de uma Bela, Santa e Sábia Mulher do nosso tempo: "Precisamos encontrar Deus; e não podemos fazê-lo com barulho e desassossego. Deus é amigo do Silencio! Vejam como a natureza – árvores, flores e frutos - crescem em silêncio! Vejam as estrelas, a lua e o sol; como se movem em silêncio! (Madre Tereza de Calcutá, 1910-1997 ).
Como se vê, o barulho provém da estupidez e degeneração de quem o produz. Enquanto o Silêncio é a manifestação da Paz, Equilíbrio e Sabedoria das Mentes mais elevadas e da própria Criação de Deus.
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Carleial. Bernardino Mendonça
Este Trabalho foi escrito em fevereiro de 2007, em Belo Horizonte - MG
Perfil do Autor:
CARLEIAL, é Psicólogo-Clínico pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais;
Estudante de Direito da Faculdade de Direito Estácio de Sá, em Belo Horizonte.
Escritor e Pesquisador nas áreas da Psicobiologia e do Direito.
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